
Nos últimos dias, quem investe em Tesouro Direto viu o patrimônio balançar — Os títulos públicos de longo prazo chegaram a cair 1% em um único dia, em meio a um cenário político e fiscal cada vez mais tenso em Brasília.
A razão? A combinação de aumento no risco fiscal, movimentações políticas do governo e a tramitação da Medida Provisória da Taxação (MP 1.303/2025).
Mas afinal, o que está acontecendo — e o que isso significa para quem investe (ou pensa em investir) em renda fixa?
O que está por trás da queda do Tesouro Direto
Segundo dados de mercado, os títulos Tesouro IPCA+ 2050 caíram −1,10% apenas no dia 8 de outubro de 2025, com a taxa de remuneração subindo de IPCA + 7,01% para IPCA + 7,06% ao ano.
Na prática, quando as taxas sobem, o preço dos títulos cai — e isso gera o que se chama de marcação a mercado, ou seja, uma oscilação temporária no valor do investimento.
Isso não significa que o investidor perdeu dinheiro “de verdade”, mas que, se vender o título antes do vencimento, ele realizará esse prejuízo momentâneo.
O cenário de instabilidade foi impulsionado por três fatores principais:
- MP da Taxação — A proposta do governo Lula altera regras tributárias, mas perdeu força após desidratações no texto, reduzindo a expectativa de arrecadação.
- Risco Fiscal Crescente — As contas públicas seguem sob pressão com novos gastos prometidos, como o possível subsídio ao transporte público.
- Alta na aprovação do governo — A pesquisa Quaest mostrou avanço na popularidade presidencial, o que fortalece o governo politicamente e alimenta expectativas de mais gastos públicos.
Resultado: o mercado exige prêmios maiores para financiar o governo, e os juros longos sobem.
O que isso significa para o investidor
A alta das taxas é um alerta importante, mas também uma oportunidade.
Para quem já investe em Tesouro Direto, especialmente títulos longos como Tesouro IPCA+ 2045 ou 2050, a recomendação é simples:
não venda no prejuízo.
Essas oscilações são normais e fazem parte do comportamento de títulos de longo prazo.
Por outro lado, para quem vai começar, esse é o momento de comprar renda fixa com rentabilidades altíssimas — algo que pode não durar muito tempo.
Veja alguns exemplos reais de rentabilidade (dados de 8/10/2025):
- Tesouro IPCA+ 2029: IPCA + 8,06% ao ano
- Tesouro IPCA+ 2040: IPCA + 7,25% ao ano
- Tesouro Prefixado 2032: 13,88% ao ano
- Tesouro Renda+ 2050: IPCA + 7,07% ao ano
Essas taxas superam com folga a inflação e a média histórica, oferecendo rendimento real muito acima do INSS ou da poupança.
Marcação a mercado: o que é e por que assusta (sem motivo)
Quando você compra um título público, ele tem preço e taxa.
Se a taxa de mercado sobe, o preço do seu título cai — e vice-versa.
Isso acontece porque os títulos já emitidos “competem” com os novos.
Quem tem um título pagando IPCA + 6%, por exemplo, vê seu valor cair quando o mercado oferece IPCA + 7%.
Mas atenção:
Se você segurar o título até o vencimento, receberá exatamente a taxa contratada.
Ou seja, não há perda real, apenas uma flutuação temporária no preço de mercado.
O cenário político e fiscal pesa — mas também ensina
A aprovação da MP da Taxação e a alta da aprovação de Lula mostram que o mercado financeiro não vive isolado da política.
Quando o governo gasta mais e arrecada menos, o risco fiscal sobe — e os investidores pedem juros maiores para emprestar dinheiro ao Estado.
Essa é a essência do prêmio de risco: quanto mais desorganizado o cenário fiscal, maior o retorno exigido.
Em outras palavras: o Tesouro paga mais porque o governo gasta mais.
Por isso, investir em títulos longos exige visão de longo prazo e sangue frio.
Quem entende o jogo da renda fixa ganha.
Quem entra sem entender, se desespera e vende na baixa.
Como o investidor inteligente deve agir agora
1. Aproveite o momento para travar boas taxas
Taxas de IPCA + 7% ao ano são históricas. Quem compra agora garante poder de compra protegido por décadas.
2. Evite vender antes do vencimento
Se o título está no negativo na marcação a mercado, mantenha até o fim. A oscilação é passageira.
3. Diversifique prazos e tipos de título
Combine Tesouro Selic (para liquidez) com IPCA+ e Prefixado (para rentabilidade).
4. Pense como dono, não como especulador
Investir em renda fixa é financiar o Estado — mas com estratégia. O segredo é entender o momento e saber onde travar os juros mais vantajosos.
Conclusão: a política muda, mas os juros compostos não
Crises, MPs, pesquisas e ruídos políticos vão continuar existindo.
Mas quem tem disciplina, paciência e conhecimento, transforma esses momentos de incerteza em boas oportunidades de compra.
Enquanto uns vendem no pânico, outros garantem IPCA + 7% por 25 anos e caminham para a independência financeira.
O investidor inteligente não teme a oscilação — ele a usa a seu favor.

